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Aprendemos cada vez mais a utilizar novos instrumentos para continuar em contato
com os outros através das redes sociais, Zoom e outras plataformas à nossa disposição. São
excelentes meios para desenvolver a interconectividade e a colaboração. No entanto, sentimos
com uma maior urgência a necessidade de retomar os encontros pessoais, reuniões e eventos
que vivíamos antes que a pandemia do covid-19 se expandisse pelo mundo inteiro. Após ter
vivenciado um longo período de isolamento, distanciamento e impedimento de encontros,
estamos interessados em multiplicar os encontros, as reuniões e os eventos.
Embora Vicente tenha escrito mais de 30 000 cartas, principal forma de comunicação
“a distância” da época, seus dias estavam preenchidos de encontros com pessoas e com grupos,
e ele apreciava visivelmente as partilhas de oração e as conferências que reuniam os Confrades
e as Irmãs.
o que fazer para alcançar os objetivos que fixamos. Por isso, volto a ele na carta deste ano,
convicto de que se conseguirmos intensificar a interconexão e a colaboração, alcançando os
objetivos que nos propusemos nestas áreas específicas, os outros seguirão quase
automaticamente e será muito mais fácil reunir os 160 ramos para qualquer nova iniciativa que
possamos empreender no futuro.
O Escritório da Família
Vicentina (VFO) trabalha com
diligência para conseguir alcançar o
seguinte objetivo: que até o próximo
ano, 2022, todos os 162 países tenham
um Conselho Nacional da Família
Vicentina.
Gostaria de fazer um apelo aos ramos de um país, de uma região ou de uma cidade onde
estão presentes há mais tempo e com maior experiência do que outros ramos no campo da
organização, para ajudar a reunir os diferentes representantes da Família. Eles estão mais aptos
para convidar os ramos e organizar os Conselhos em que cada ramo participará, a fim de
planejar em conjunto diferentes projetos, iniciativas e encontros no decorrer do ano. Encorajo
os Conselhos Nacionais a não limitar os encontros a uma vez por ano, mas realizá-los várias
vezes por ano, para desenvolver e intensificar a colaboração e a interconectividade que reunirão
regularmente a Família.
Para insistir sobre a importância da colaboração através das iniciativas lançadas por
outros e conforme a finalidade da Congregação da Missão, Vicente imaginou os objetivos que
seus membros poderiam realizar: “Poderemos dizer na Companhia: ‘Senhor Padre, estou no
mundo para evangelizar os pobres, e quereis que trabalhe nos seminários?’” 1; “Senhor Padre,
1
Obras Completas, São Vicente de Paulo: correspondência, colóquios, documentos. Tomo XII/organizado por
Pierre Coste, tradução de Getúlio Mota Grossi - Belo Horizonte: Editora: O lutador, 2016. p. 87. Conferência 195,
sobre o fim da Congregação da Missão. As futuras referências a esta obra serão indicadas utilizando o nome,
é bom que nos apliquemos a isso, mas com que fim servimos as Filhas da Caridade?” 2…
“crianças expostas, porque nos encarregarmos disso? Não temos outros trabalhos que nos
bastam?” 3. Vicente disse que aqueles que se desviarem de tais serviços de colaboração, são
“pessoas comodistas, pessoas que só tem uma pequena periferia, que limitam seu horizonte e
objetivos a uma certa circunferência, onde se encerram como em um ponto; não querem sair
dali; e se lhes mostram alguma coisa mais para além, eles se aproximam para observá-la e
voltam logo ao seu centro, como o caramujo para a sua concha” 4.
Eu lhes convido a fazer todos os esforços para garantir que estes encontros, projetos e
iniciativas não se limitem a dois ou três ramos num país, numa região ou numa cidade, mas
incluam fielmente todos os ramos. Uma vez que um ou outro ramo proponha uma iniciativa e
convide os outros para colaborar, inevitavelmente, eles continuarão.
Obras Completas seguidas das iniciais SV, do número do volume, depois do número de página, por exemplo:
Obras Completas, SV XII, 87.
2
Ibid., 88.
3
Ibid., 91.
4
Ibid., 95.
No ano passado, nós nos unimos como Família internacional para levar a nossa ajuda
às pessoas afetadas pela pandemia do covid-19 e pela trágica explosão no porto de Beirute. O
VFEC lançou uma campanha com a Comissão da Aliança Famvin com os sem-teto (FHA), a
fim de socorrer as centenas de milhares de desabrigados na capital libanesa, através do
Conselho Nacional da Família Vicentina do Líbano, coordenado pelo seu presidente nacional.
Durante a peste que atingiu Marselha em 1649 e ao saber da morte do Padre Brunet e
do seu colaborador leigo, o Cavaleiro de la Coste, Vicente descreveu uma resposta rápida à
crise. Ele escreveu a Antônio Portail, “A Madame Duquesa de Aiguillon deve enviar-nos 500
libras… Se precisais de mais dinheiro, mandai dizer-me, nós o enviaremos imediatamente e,
se for necessário, venderemos nossas cruzes e nossos cálices para vos socorrer” 5.
5
Obras Completas, SV III, 566.
A FHA com a Campanha 13 Casas é uma iniciativa caritativa que reúne a Família
Vicentina e, portanto, deve ser promovida no seio da Família Vicentina a fim de tocar os
corações de cada membro para que todos se envolvam. A FHA é o nosso único projeto comum.
No entanto, é necessário promovê-la, implementá-la e expandi-la nos 162 países onde a Família
Vicentina está presente, de modo que nenhuma Congregação ou Associação fique de fora, mas
que todas participem ativamente da iniciativa em todos os cantos do mundo onde vivemos e
servimos.
Até os dias atuais, 44 ramos da Família Vicentina estão ativamente comprometidos com
a FHA e com Campanha 13 Casas. Ela está agora presente em 44 países; 1 826 casas foram
construídas e 6 628 pessoas foram ajudadas. No ano passado, esperávamos que, por ocasião da
festa de São Vicente de Paulo, muitos outros ramos, congregações e associações de leigos
participassem de alguma forma da FHA, porém, este objetivo não foi alcançado. Há ainda um
longo caminho a percorrer.
do covid-19. Uma resposta estruturada a estas imensas necessidades é mais do que nunca
primordial.
Os dias atuais nos fazem lembrar a situação que Vicente enfrentou durante a guerra da
Fronda, quando mobilizou grupos e indivíduos, vicentinos e eclesiásticos, para socorrer as
pessoas deslocadas, escrevendo assim ao seu confrade na Polônia:
“Levaram as moças refugiadas para residências particulares, onde são
mantidas e educadas até o número de oitocentas. Fazei ideia de quantos males
teriam acontecido, se elas tivessem continuado na vagabundagem. Delas temos
cem numa casa do arrabalde Saint-Denis. Vão ser retiradas do mesmo perigo
as religiosas da zona rural que os exércitos jogaram em Paris, dentre as quais
umas estão sem moradia e sem trabalho, outras se abrigam em locais suspeitos,
outras, enfim, se acomodam em casas de parentes. Mas, vivendo todas na
dissipação e no perigo, acreditou-se prestar um serviço muito agradável a Deus,
recolhendo-as em um mosteiro, sob a direção das Filhas de Santa Maria” 6.
Como já escrevi numa carta, devemos chegar rapidamente ao ponto em que o problema
dos sem-teto não será abordado individualmente, nem por uma pessoa, nem por um ramo, mas
como Família em âmbito local, nacional e internacional. Cada ramo, ao trazer a longa história
de serviço junto aos sem-teto, a sua experiência, o seu profissionalismo e seus recursos,
contribui para constituir uma força formidável que se torna bem mais eficaz para ajudar os
pobres.
Desejo a cada membro da Família Vicentina presente no mundo inteiro, no sentido mais
amplo da palavra, uma profunda experiência de graça por ocasião da festa de São Vicente de
Paulo. Que Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, São Vicente de Paulo, todos os Santos,
Beatos e Servos de Deus da Família Vicentina continuem a interceder por nós e a nos inspirar
no caminho para a globalização da Caridade!
6
Obras Completas, SV IV, 459